Minhas calças puídas,
esses homens, essas mulheres:
Fantasmas! Fantasmas!
No ventre do furacão,
deusa dos olhos tropicais,
dos olhos entorpecidos,
da névoa que corrompe o sangue.
Amante minha, poesia.
Rascunho das músicas
que os sonhos condenam.
Tranquilos são os dias que passamos em guerra
a esperar a pequena lua do oriente.
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
sábado, 28 de novembro de 2015
poema para nossos pés descalços
...para Izabella
No verso do espaço
em branco,
Os olhos de Izabella,
De feitiço e fogo.
Tua voz negra rompe
A nuvem do silêncio,
Pele consciente
De seu toque mais puro,
Com dentes profundos
Mastigas a piedade,
Faz respirar a máquina
No corpo-liberdade.
Nos teus olhos
Nossos pés descalços
Caminham.
No verso do espaço
em branco,
Os olhos de Izabella,
De feitiço e fogo.
Tua voz negra rompe
A nuvem do silêncio,
Pele consciente
De seu toque mais puro,
Com dentes profundos
Mastigas a piedade,
Faz respirar a máquina
No corpo-liberdade.
Nos teus olhos
Nossos pés descalços
Caminham.
quinta-feira, 8 de outubro de 2015
Hiroshima mon amour
Sim, estamos em guerra
Com os elefantes
E com os balões coloridos
E com as poças d’água
Estamos em guerra
Com as horas-aula
Com a pele que leva o archote
Pele preta parda e sem nome
Seca de afeto
De olhos exangues
Estamos em guerra
E hoje uma árvore contou-me um segredo:
Um homem parou de lutar
Dê-me as bombas de nêutron
Dê-me o beijo que é uma trincheira
Dê-me a chave da Hiroshima do amor
Com os elefantes
E com os balões coloridos
E com as poças d’água
Estamos em guerra
Com as horas-aula
Com a pele que leva o archote
Pele preta parda e sem nome
Seca de afeto
De olhos exangues
Estamos em guerra
E hoje uma árvore contou-me um segredo:
Um homem parou de lutar
Dê-me as bombas de nêutron
Dê-me o beijo que é uma trincheira
Dê-me a chave da Hiroshima do amor
sábado, 19 de setembro de 2015
Encontros
O homem dá adeus ao cavalo
E da terra extrai um lápis
Impregnado de noite.
Olha em diagonal
Mulheres navegando garotos,
Consumindo cigarros sem prazer.
Olha os carros percorrendo
Ruas de chão batido.
O homem vertical nada vê
Suspirando o mofo da cidade,
Suspeitando das verdades impressas,
O sexo flácido nas mãos enferrujadas,
A vida despida de nuvens
À sombra de uma escada.
Nossas vozes poderiam se cruzar
Em algum ponto entre o desencontro
E o desencanto,
Mas deixo-as nuas na claridade augusta.
Talvez eu pudesse escrever outras estórias
Se não tivesse o corpo em chamas.
E da terra extrai um lápis
Impregnado de noite.
Olha em diagonal
Mulheres navegando garotos,
Consumindo cigarros sem prazer.
Olha os carros percorrendo
Ruas de chão batido.
O homem vertical nada vê
Suspirando o mofo da cidade,
Suspeitando das verdades impressas,
O sexo flácido nas mãos enferrujadas,
A vida despida de nuvens
À sombra de uma escada.
Nossas vozes poderiam se cruzar
Em algum ponto entre o desencontro
E o desencanto,
Mas deixo-as nuas na claridade augusta.
Talvez eu pudesse escrever outras estórias
Se não tivesse o corpo em chamas.
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Meu coração é um mil folhas no balcão da padaria
Minhas pernas movem-se como baleias
Num mar de sangue,
Como se cavalos cuspissem fogo.
Tenho a boca aberta da fome
Brancos olhos cristãos,
Meu corpo todo
É um gigante ébrio de amor.
Sou o que esquece quando deveria lembrar,
A força que mantém a corda tesa,
A pele negra que te reveste a alma.
Meus versos são pedaços de uma prece
Que se arrasta pra dentro do tempo,
Um segredo que levas no bolso
E ingenuamente chamas de desejo.
Num mar de sangue,
Como se cavalos cuspissem fogo.
Tenho a boca aberta da fome
Brancos olhos cristãos,
Meu corpo todo
É um gigante ébrio de amor.
Sou o que esquece quando deveria lembrar,
A força que mantém a corda tesa,
A pele negra que te reveste a alma.
Meus versos são pedaços de uma prece
Que se arrasta pra dentro do tempo,
Um segredo que levas no bolso
E ingenuamente chamas de desejo.
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Odisseia
Dos mistérios gerais de viajar pelo espaço
Dos perigos de percorrer a nebulosa
Sem um traje espacial
Vim da terra
E o perigo está nos meus olhos
Humano poder de comer poesia
Terráqueos dedos de tristeza
O homem pisa na lua
Depois da morte
E todas as vozes calam
No quintal de deus
Não há colônia de férias em Marte
Não há colônia de homens
Em lugar algum
A multidão de gente sem nome
Engoliu a Terra
Dos perigos de percorrer a nebulosa
Sem um traje espacial
Vim da terra
E o perigo está nos meus olhos
Humano poder de comer poesia
Terráqueos dedos de tristeza
O homem pisa na lua
Depois da morte
E todas as vozes calam
No quintal de deus
Não há colônia de férias em Marte
Não há colônia de homens
Em lugar algum
A multidão de gente sem nome
Engoliu a Terra
terça-feira, 25 de agosto de 2015
o bom marujo
Menino fantasiado de mar
Tocando blues
para Iemanjá
Em cada porto um amor
Em cada praia um adeus
Em toda pele a máquina
Que alimenta
a saudade
O bom marujo em terra
É passagem d'água
Estreito salgado
Levando nos cabelos
o vento nordeste
Tocando blues
para Iemanjá
Em cada porto um amor
Em cada praia um adeus
Em toda pele a máquina
Que alimenta
a saudade
O bom marujo em terra
É passagem d'água
Estreito salgado
Levando nos cabelos
o vento nordeste
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Sobre o homem que vive dentro do homem
Sobre o dar e receber,
as guerras não combatidas,
o não lugar, as coisas falidas
e úteis.
Sobre a noite
e a morte da estrela,
o doce amargo, a humanidade
dissolvida em mim.
Sobre o encanto
quando as torres
empurram a maré.
Sobre todos, o lugar disperso,
o fogo na alma das palavras,
a cor dos cachorros
quando partem,
quando a água arrasta
por metros distantes
o corpo do poeta
uivando para as pedras.
as guerras não combatidas,
o não lugar, as coisas falidas
e úteis.
Sobre a noite
e a morte da estrela,
o doce amargo, a humanidade
dissolvida em mim.
Sobre o encanto
quando as torres
empurram a maré.
Sobre todos, o lugar disperso,
o fogo na alma das palavras,
a cor dos cachorros
quando partem,
quando a água arrasta
por metros distantes
o corpo do poeta
uivando para as pedras.
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Lugar coberto por ervas
Deita a cabeça no mármore
mostra teu sorriso,
reveste o dia
Salta dentro da gota
Sobrevoando o destino
E a partitura da canção
Nessas folhas espúrias, os versos
não convencem a beleza
a deitar nua, na grama,
conosco.
quarta-feira, 1 de julho de 2015
v a r a l
Ouve meu sangue
Escuta a voz penetrante do aço
Escuta o que corre no corpo
Ouve em silêncio o medo
Aqui nesse bairro tranquilo
De cadeiras quietas
Os varais secam
O sangue das camisas.
Escuta a voz penetrante do aço
Escuta o que corre no corpo
Ouve em silêncio o medo
Aqui nesse bairro tranquilo
De cadeiras quietas
Os varais secam
O sangue das camisas.
terça-feira, 9 de junho de 2015
O Espantalho
Escrevi um bilhete antes de partir.
Fiz uma música e nela tinha a voz de outros que também choravam espalhados pelo campo. Espantalhos.
Ouço longe esse eco e a chuva me leva pela estrada.
A felicidade está naquela máquina da cozinha.
Mas o cavalo é sedento e é fome. Tem uma boca assustada.
Eu escrevi tudo isso no bilhete, antes de partir.
Ele molhou no bolso,
O bilhete.
Fiz uma música e nela tinha a voz de outros que também choravam espalhados pelo campo. Espantalhos.
Ouço longe esse eco e a chuva me leva pela estrada.
A felicidade está naquela máquina da cozinha.
Mas o cavalo é sedento e é fome. Tem uma boca assustada.
Eu escrevi tudo isso no bilhete, antes de partir.
Ele molhou no bolso,
O bilhete.
mil luas
Envelheci mais de mil anos
Em uma lua
Lufada de cabelos grisalhos
Na cabeça pendurada no mastro
Envelheci mil luas
Dentro de um único pensamento
Num quarto sem janelas
Na terra inculta
Bebi de uma velhice cansada
Solitários galhos
De um tronco robusto
E assim mesmo
Morrerei outras mil vezes
Nascendo.
Em uma lua
Lufada de cabelos grisalhos
Na cabeça pendurada no mastro
Envelheci mil luas
Dentro de um único pensamento
Num quarto sem janelas
Na terra inculta
Bebi de uma velhice cansada
Solitários galhos
De um tronco robusto
E assim mesmo
Morrerei outras mil vezes
Nascendo.
segunda-feira, 11 de maio de 2015
Encontro de cegos
Ela tem um cachorro,
Um quarto azul
E braços de remadora.
Eu
Ela pensa formigas, grão de areia, infusões.
sou
Ela bebeu do cálice.
oculto.
(E partiu.)
Um quarto azul
E braços de remadora.
Eu
Ela pensa formigas, grão de areia, infusões.
sou
Ela bebeu do cálice.
oculto.
(E partiu.)
sábado, 9 de maio de 2015
cadafalso
Sinto o corpo suspenso
Entre suspiros de gatos
Entre a lembrança e o susto
Entre nenhum e todos
Meus amigos:
Eu era a palavra-valise
A chave da porta
Agora saio sem pagar a conta
Velho fantasma sem filhos
Não teve raiz nem quintal
Era o fiel da balança
Cadafalso e escuridão
O líquido que transborda
Da cópula
Sementeira de cegos
Onde vivem as mágoas
Dos mágicos destinos?
Eu sei, ele dizia
E a sua reposta soprava o vento
E as velas dos barcos
E um tanto do silêncio.
Entre suspiros de gatos
Entre a lembrança e o susto
Entre nenhum e todos
Meus amigos:
Eu era a palavra-valise
A chave da porta
Agora saio sem pagar a conta
Velho fantasma sem filhos
Não teve raiz nem quintal
Era o fiel da balança
Cadafalso e escuridão
O líquido que transborda
Da cópula
Sementeira de cegos
Onde vivem as mágoas
Dos mágicos destinos?
Eu sei, ele dizia
E a sua reposta soprava o vento
E as velas dos barcos
E um tanto do silêncio.
quinta-feira, 7 de maio de 2015
Um pingado
O cheiro do café traveste a loucura
De selvagem paciência
Grãos, sorrisos e outras peças
Encenadas no avanço
da velhice
Já não me custa viver sem o que desejo
Envelheço como música.
sábado, 11 de abril de 2015
Coração Leviano
"Ah! coração, teu engano foi esperar por um bem
de um coração leviano..."
Paulinho da Viola
Eu teria morrido ao teu lado vestido de palhaço triste. Sentei num banco para escrever tudo o que sabia. Falhei porque me falta humildade. Tenho para oferecer apenas um coração leviano, samba embargado na voz.
Morreria imolado em minha fé passageira pra chamar tua atenção. Sou moço, porém quebradiço, desenganado pelos fios brancos da barba, os olhos fundos em que nunca estou.
O sol baixa devagar. As moças sabem do meu segredo, da capa e do sangue. Na praça, aos olhos do povo, o sacrifício do amor.
de um coração leviano..."
Paulinho da Viola
Eu teria morrido ao teu lado vestido de palhaço triste. Sentei num banco para escrever tudo o que sabia. Falhei porque me falta humildade. Tenho para oferecer apenas um coração leviano, samba embargado na voz.
Morreria imolado em minha fé passageira pra chamar tua atenção. Sou moço, porém quebradiço, desenganado pelos fios brancos da barba, os olhos fundos em que nunca estou.
O sol baixa devagar. As moças sabem do meu segredo, da capa e do sangue. Na praça, aos olhos do povo, o sacrifício do amor.
terça-feira, 7 de abril de 2015
Lady Sings the blues
Canta e todos nós te seguiremos
Perdidos, dando voltas no beco
Entrando e saindo
Bêbados, Billie
Adoecidos, sóbrios.
Billie, nós te seguiremos
Perderemo-nos
Tua voz arrasta a morte até as estrelas
Arranha a carne abandonada.
Os amantes fugiram, Billie
Partiram quando o cigarro acabou
Antes mesmo de fecharmos os olhos.
Vem depressa, canta
Antes que a música acabe
E eu prometo, te seguiremos
Perdidos para sempre.
Perdidos, dando voltas no beco
Entrando e saindo
Bêbados, Billie
Adoecidos, sóbrios.
Billie, nós te seguiremos
Perderemo-nos
Tua voz arrasta a morte até as estrelas
Arranha a carne abandonada.
Os amantes fugiram, Billie
Partiram quando o cigarro acabou
Antes mesmo de fecharmos os olhos.
Vem depressa, canta
Antes que a música acabe
E eu prometo, te seguiremos
Perdidos para sempre.
sexta-feira, 3 de abril de 2015
Agora o céu deita em algum banco úmido do parque
E observa, de olhos fechados, as estrelas.
As crianças ao seu redor cantam salmos,
Levam coroas de flores e um pouco do ar
Cansado dos mortos.
O fim da tarde une os mendigos
Numa espécie de concílio.
Ali acolhem a terra e as ofensas recebidas
enquanto costuram algo que se parece
com esperança.
E observa, de olhos fechados, as estrelas.
As crianças ao seu redor cantam salmos,
Levam coroas de flores e um pouco do ar
Cansado dos mortos.
O fim da tarde une os mendigos
Numa espécie de concílio.
Ali acolhem a terra e as ofensas recebidas
enquanto costuram algo que se parece
com esperança.
terça-feira, 31 de março de 2015
Celebração
Ao poeta que é preso por dormir na rua,
Que transforma o caos em flechas,
O mundo em livros,
Mas não os vende.
Ao poeta pintor, eletricista,
Que percorre a cidade de ônibus
Ouvindo a mesma música.
Ao poeta que é metade insônia,
Metade transe, de resto mágicas úlceras,
E rega a vida com café e pão,
Ofereço esta adaga.
Que transforma o caos em flechas,
O mundo em livros,
Mas não os vende.
Ao poeta pintor, eletricista,
Que percorre a cidade de ônibus
Ouvindo a mesma música.
Ao poeta que é metade insônia,
Metade transe, de resto mágicas úlceras,
E rega a vida com café e pão,
Ofereço esta adaga.
sexta-feira, 27 de março de 2015
Fuga dos Passáros
Escrever o chão em que pisamos,
Lavar teus pés, ungir a vida.
Separar o nós, ver-te sorrir
Repousada na grama.
Ver-me partir,
sem a solidão.
Cultivar o vermelho,
Dentro do sol de outono.
Desfruta-me com esperança,
Depois foge com os
Passarinhos.
Lavar teus pés, ungir a vida.
Separar o nós, ver-te sorrir
Repousada na grama.
Ver-me partir,
sem a solidão.
Cultivar o vermelho,
Dentro do sol de outono.
Desfruta-me com esperança,
Depois foge com os
Passarinhos.
sábado, 14 de março de 2015
Groove é Amor
Que o amor se derrame lento
Até perder esse nome;
Antes seja um sopro
Do que um bloco glacial
No oceano.
O amor é um baile
Perfumado,
Meus pés erram os teus
E ainda assim dançam.
Nosso groove é um protesto
Romântico.
Até perder esse nome;
Antes seja um sopro
Do que um bloco glacial
No oceano.
O amor é um baile
Perfumado,
Meus pés erram os teus
E ainda assim dançam.
Nosso groove é um protesto
Romântico.
segunda-feira, 9 de março de 2015
Tempus Autumnus
Quando a cidade
Esvazia o espírito
E ouve o rio,
Pássaros tecem
O fim do verão.
Cessa a passagem febril,
A palavra irrompe sóbria
No imprescindível lugar
E ajusta a linha melódica
Do poema.
Esvazia o espírito
E ouve o rio,
Pássaros tecem
O fim do verão.
Cessa a passagem febril,
A palavra irrompe sóbria
No imprescindível lugar
E ajusta a linha melódica
Do poema.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Música
para Madeleine Peyroux
Existe, há tempos, um rio
correndo dos campos
até o asfalto,
cobrindo a cidade.
Das ruas onde navegam corações,
veias cintilantes confusas,
cães ladrando,
motores.
Eu vou rua abaixo,
Liberta-me!
Eu desço o rio,o ventre rasgado,
as calças sujas de saudade;
Eu desço o rio de pedras,
um corpo de olhos abertos.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Geometria
Estabelecer as partes contrárias
Recordar para esquecer
Como um desmanche
De sucatas vivas
Membros seccionados
Homocinética para homens
De lata.
Então
Desenterrar essa estranha
Tristeza que me sorri.
Recordar para esquecer
Como um desmanche
De sucatas vivas
Membros seccionados
Homocinética para homens
De lata.
Então
Desenterrar essa estranha
Tristeza que me sorri.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
congestionado
Um pesadelo remoto
múmias e instrutores de yoga
num céu nublado
Um terremoto pesado
cidades inteiras
de afetos racionados
Carona vencida
Motoboy expresso
transformado samurai
no ronco monocromático
No trânsito
diáspora dos sentimentos:
besouros
lápis
dados
garrafas
plástico
espectros
Cristãos e larápios
monges e morcegos
infalíveis
em suas rezas
assim como azeite de oliva
potes de conserva
e derivados da dieta
No fim
detergente para as panelas
gorduras e outras piorréias
que afligem o compositor
(sem olho e amedrontado)
que se quer desconhecido
porém ilustre
soldador da lua.
múmias e instrutores de yoga
num céu nublado
Um terremoto pesado
cidades inteiras
de afetos racionados
Carona vencida
Motoboy expresso
transformado samurai
no ronco monocromático
No trânsito
diáspora dos sentimentos:
besouros
lápis
dados
garrafas
plástico
espectros
Cristãos e larápios
monges e morcegos
infalíveis
em suas rezas
assim como azeite de oliva
potes de conserva
e derivados da dieta
No fim
detergente para as panelas
gorduras e outras piorréias
que afligem o compositor
(sem olho e amedrontado)
que se quer desconhecido
porém ilustre
soldador da lua.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Talvez Chuva
A chuva fala línguas ancestrais
que inundarão as peças da casa.
Viver no teto é opção.
E nem precisaremos vender o endereço.
Contas e ameaças de morte continuarão
chegando pelas nuvens.
O resto sobreviverá nas malas desfeitas
(Discos Cupins Facas )
confundindo dor e esperança.
que inundarão as peças da casa.
Viver no teto é opção.
E nem precisaremos vender o endereço.
Contas e ameaças de morte continuarão
chegando pelas nuvens.
O resto sobreviverá nas malas desfeitas
(Discos Cupins Facas )
confundindo dor e esperança.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2015
O escuro
No escuro do escuro, tateava objetos, órgãos que se jogavam uns contra os outros. Espera, repetia a voz. As coisas não se repetem. A música sem rima é filha do silêncio. Eu quero o teu desejo - o beijo sussurrado - quero-o solto. E se me repito, desculpe, repete em voz alta: do meu querer, leva um pedaço contigo. A parte que viveu dentro do beijo. Deixa-me descansar ali. Se tudo desaparece na imagem invertida do espelho, derrama em mim teu cheiro. Se não voltares mais, descansa em mim teu cheiro.
terça-feira, 27 de janeiro de 2015
Cabeças falantes
Foi de garoto que veio o gosto. No chiqueiro, ao invés de porcos, criava cabeças. Umas cabeças miúdas com vento de nordeste. Cabecinhas de alfinete. Deixava que o sol pegasse na palha seca e com um pouco de música e fogo elas surgiam espontaneamente. Depois de um tempo, já espichado, criava cabeças falantes que serpenteavam palavras enquanto rapinavam quem parasse para escutá-las. Essas ele deixou em contato com a televisão. Todavia, verborrágicas e gatunas, lhe trouxeram problemas em demasia. Por acaso, mas só por acaso, um dia as cabeças comeram os versos de um poema caído no chão. No ato pegaram delírio. Transformadas em esfinges, devoravam leitores delinquentes antipoéticos.
domingo, 25 de janeiro de 2015
Último vagão
O trem corta o aço
- cada vez mais perto –
num desejo de floresta
sem respiração
onde dançam teus
abraços
apóstolos da vingança
e outros objetos
perdidos em fuga
- cada vez mais perto –
num desejo de floresta
sem respiração
onde dançam teus
abraços
apóstolos da vingança
e outros objetos
perdidos em fuga
terça-feira, 20 de janeiro de 2015
poema menor
Se a boca fala
inventa ou mente, se cospe
de sua natureza mundana,
beijos e outras coisas,
de chofre
há quem não atente:
o amor é um cavalo de pedra
no sol do deserto.
sábado, 17 de janeiro de 2015
Luz Negra
para P.Maurer e Jorge Mautner
A luz negra que me cegou a máquina
misto de madeira e carne
bebe do meu sangue.
A luz negra que me abraçou espinhos
sutura a mágoa
depois arrasta.
Te persigo
onde não estás, até quando não vens:
“A luz negra dos seus olhos”.
A luz negra que me cegou a máquina
misto de madeira e carne
bebe do meu sangue.
A luz negra que me abraçou espinhos
sutura a mágoa
depois arrasta.
Te persigo
onde não estás, até quando não vens:
“A luz negra dos seus olhos”.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
Poços de Petróleo
A cidade, mais do que sonho,
é um pressentimento,
vislumbre de possibilidades
dormitando nos olhos sonâmbulos
dos frentistas.
Fábula do terror tecnológico,
perfume de gasolina.
Bebemos dos postos,
bombas mucamas, amas de leite,
a vida.
Paga com cartão de crédito ou débito,
pois, desconfiados,
ninguém mais aceita cheques.
é um pressentimento,
vislumbre de possibilidades
dormitando nos olhos sonâmbulos
dos frentistas.
Fábula do terror tecnológico,
perfume de gasolina.
Bebemos dos postos,
bombas mucamas, amas de leite,
a vida.
Paga com cartão de crédito ou débito,
pois, desconfiados,
ninguém mais aceita cheques.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Redenção
Ver a cidade
(azul que descansa
atrás do arranha-céu)
de parabólicos castelos
nuvens de pensamentos
desejos ativos
confundidos na grama
na pressão dos corpos no orvalho
(gemidos
dispersos)
Os amantes não temem a polícia
nem o fim do mundo.
A cidade agradece.
(azul que descansa
atrás do arranha-céu)
de parabólicos castelos
nuvens de pensamentos
desejos ativos
confundidos na grama
na pressão dos corpos no orvalho
(gemidos
dispersos)
Os amantes não temem a polícia
nem o fim do mundo.
A cidade agradece.
terça-feira, 13 de janeiro de 2015
madrugadenta
Ele entrou na cozinha e pensou que o fogão era um bom lugar para fazer um café, pois já ia madrugadenta. Porém, antes a água, o filtro, o pó. Colocou a chaleira transbordante em uma das tantas bocas do fogão. Para acendê-lo era necessário um fósforo. Viu a caixa dormitando no balcão, aquela hora ela já não trabalhava muito, e transviu os fósforos lá dentro sem nem precisar abri-la. Eles lá deitados, magrinhos com suas cabeças pesadas, vermelhas. Transviu suas vidas passadas quando ocupavam florestas, quando eram apenas um e tocavam o vento. Dessa época guardavam ainda mistérios. Podiam acender o fogo e notas musicais, coçar um cérebro ou tirar cera do ouvido, apagar a cegueira ou ajudar as musas a encontrarem os poetas. Não reclamavam de nada, nem do tamanho da caixa ou do cheiro de fritura, nem quando acabavam no lixo. Tristeza mesmo era cair na pia e acabar molhado e não poder acender mais nem o bule do café.
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