segunda-feira, 19 de abril de 2010

Skinny Girls

Veio em minha direção sorrindo, beijou meu rosto, nossos corpos se tocaram. Involuntariamente passei a mão pela sua cabeleira lisa. Desencontramo-nos estranhamente. Ela prosseguiu serpenteando por entre as classes. Sentou-se perto da janela. Tive vontade de fazer o mesmo, sentar-me ao seu lado e tocar novamente seu cabelo, embrenhar a mão nele. Creio que alguém me sussurrou algo, cheguei um pouco para o lado deixando assim a passagem livre. Ela o fez novamente, dessa vez a minha espalda. Olhei por cima do ombro e vi apenas seu vulto longilíneo. Magra, quase sem bunda, nem seios. Sua boca movia-se como se fosse me engolir. Descobri que ela era quinze anos mais nova do que eu. Sentia uma vergonha danada, ficava desconcertado ao seu lado. Fez um gesto com o dedo como a chamar uma criança, depois deu dois tapinhas na almofada da cadeira. Olhei ao redor e vi muitos outros olhos a me espiar. Ela sorria um meio sorriso sem mostrar os dentes, cheio de violência, e repetia o gesto batendo na almofada. O que um homem faz numa hora dessas? Aceitei o papel de bobo, sentei. Quando virei a cabeça buscando sua boca, encontrei um rosto envelhecido com a pele enrugada. A mão que repousou na minha perna estava enrijecida e torta como a garra de um animal. As horas ainda nem haviam passado para nós, era noite lá fora, havia estrelas no céu. A voz retornou aos ouvidos, o hálito quente causou-me arrepios. Encolhi o pescoço, ela tentou mordê-lo. Deu um tapa na minha bunda e foi se afastando da porta até chegar ao corredor. Passou a mão pelos longos cabelos. Ficou estaqueada me olhando, sabia tudo, podia ler os meus pensamentos. Sorriu brevemente, depois moveu os lábios e o nariz como se fosse uma gata. Olhei o relógio e só então percebi que a aula havia terminado, não tinha mais ninguém na sala. As luzes se apagaram lentamente e a mão segurou com força minha perna.