quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Música


para Madeleine Peyroux

Existe, há tempos, um rio
correndo dos campos
até o asfalto,
cobrindo a cidade.

Das ruas onde navegam corações,
veias cintilantes confusas,
cães ladrando,
motores.

Eu vou rua abaixo,
Liberta-me!
Eu desço o rio,o ventre rasgado,
as calças sujas de saudade;
Eu desço o rio de pedras,
um corpo de olhos abertos.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Geometria

Estabelecer as partes contrárias
Recordar para esquecer
Como um desmanche
De sucatas vivas
Membros seccionados
Homocinética para homens
De lata.

Então
Desenterrar essa estranha
Tristeza que me sorri.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

congestionado

Um pesadelo remoto
múmias e instrutores de yoga
num céu nublado

Um terremoto pesado
cidades inteiras
de afetos racionados

Carona vencida
Motoboy expresso
transformado samurai
no ronco monocromático

No trânsito
diáspora dos sentimentos:
besouros
lápis
dados
garrafas
plástico
espectros

Cristãos e larápios
monges e morcegos
infalíveis
em suas rezas
assim como azeite de oliva
potes de conserva
e derivados da dieta

No fim
detergente para as panelas
gorduras e outras piorréias
que afligem o compositor
(sem olho e amedrontado)
que se quer desconhecido
porém ilustre
soldador da lua.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Talvez Chuva

A chuva fala línguas ancestrais
que inundarão as peças da casa.
Viver no teto é opção.
E nem precisaremos vender o endereço.

Contas e ameaças de morte continuarão
chegando pelas nuvens.
O resto sobreviverá nas malas desfeitas
(Discos Cupins Facas )
confundindo dor e esperança.