Em um raio de dois mil quilômetros
Nem sombra ou rastro do sono
Ou a voz inconfundível dos sonhos
Se aproximando como areia
No pensamento
As palavras transformadas em imagens
Ou o sorriso das sereias
Adormecendo em mim
O tumulto dos motores
O monstro de duas cabeças
Que devora os homens apressados
Porém desatentos
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
Domingo
Depois dos lençóis estendidos
Depois do almoço
O café
Chocolate doce-amargo
Senhor e Senhora sentados
O passado atualizado no ritual
As pequenas vilanias do dia
Amontoadas contra o céu
Ao redor da mesa repousado
O quebra cabeça das palavras
As conversas a respeito do preço do gás
O temporal no horizonte
O silêncio entre os dentes
Cobertos de sangue
À tarde bolo de laranja
E um pouco de rancor
Depois do almoço
O café
Chocolate doce-amargo
Senhor e Senhora sentados
O passado atualizado no ritual
As pequenas vilanias do dia
Amontoadas contra o céu
Ao redor da mesa repousado
O quebra cabeça das palavras
As conversas a respeito do preço do gás
O temporal no horizonte
O silêncio entre os dentes
Cobertos de sangue
À tarde bolo de laranja
E um pouco de rancor
segunda-feira, 25 de setembro de 2017
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
[poema]
De um verso a outro
O poema rabisca a tarde
Atento as intempéries do mundo
E as investidas da morte
À cidade e a lógica do acúmulo
Oferta a necessidade física do afeto
Aos astronautas do semáforo
Cascas de sol e bergamotas
Um convite -
O mar à esquerda
Um desvio à direita -
Até a próxima esquina
O poema rabisca a tarde
Atento as intempéries do mundo
E as investidas da morte
À cidade e a lógica do acúmulo
Oferta a necessidade física do afeto
Aos astronautas do semáforo
Cascas de sol e bergamotas
Um convite -
O mar à esquerda
Um desvio à direita -
Até a próxima esquina
quinta-feira, 27 de julho de 2017
[poema]
dormi a terra úmida:
as janelas abertas e o céu a nascer.
dormi o esquecimento para acordar um rio de pedras,
o momento ruidoso entre as horas.
dormi para escrever a morte que renova o trigo
sem esperança alguma,
como o vento.
dormi o sono do mundo,
os olhos repletos de silêncio,
grilhões e sonhos distantes.
dormi a última estrela,
homens em linha,
edifícios sem nome
e lá no fundo,
antes das paredes brancas,
teu rosto,
o amor confuso das nuvens.
assim, despertaremos
as janelas abertas e o céu a nascer.
dormi o esquecimento para acordar um rio de pedras,
o momento ruidoso entre as horas.
dormi para escrever a morte que renova o trigo
sem esperança alguma,
como o vento.
dormi o sono do mundo,
os olhos repletos de silêncio,
grilhões e sonhos distantes.
dormi a última estrela,
homens em linha,
edifícios sem nome
e lá no fundo,
antes das paredes brancas,
teu rosto,
o amor confuso das nuvens.
assim, despertaremos
quarta-feira, 28 de junho de 2017
quando ainda sonhávamos com o BNH
Espalhados pelo vale
Edifícios e casas aos milhares
Espremendo contra o céu
Suor e sonhos financiados
Quarenta e oito anos em parcelas
Da manhã até a noite
Entre o cansaço do olho que dorme
E a insônia do olho que se mantém aberto
Fazendo contas.
De madrugada, em transe
Gritam às nuvens poemas hipotecados
Para êxtase dos juros
Travestidos em anjos.
Edifícios e casas aos milhares
Espremendo contra o céu
Suor e sonhos financiados
Quarenta e oito anos em parcelas
Da manhã até a noite
Entre o cansaço do olho que dorme
E a insônia do olho que se mantém aberto
Fazendo contas.
De madrugada, em transe
Gritam às nuvens poemas hipotecados
Para êxtase dos juros
Travestidos em anjos.
quarta-feira, 31 de maio de 2017
[poema]
Retiradas do concreto,
as palavras,
repousadas no canto inferior da memória,
páginas dezessete e dezoito,
reivindicam para si
a condição errante de poesia.
as palavras,
repousadas no canto inferior da memória,
páginas dezessete e dezoito,
reivindicam para si
a condição errante de poesia.
segunda-feira, 15 de maio de 2017
[poema]
O poeta está nu
parado em frente a estante de livros
sentindo a solidez da vigília
procurando um título com olhos estrábicos
esperando ser fecundado pela poesia
pelos versos que saltam das páginas rasgadas
aspirando a poeira dos mortos
Musa da meia-noite
flutua insone sob o teto dos amantes,
leva recados em capsulas de analgésicos
promove orgias na sala de jantar
Dorme no mastro negro dos marujos
E com tua seiva escreve poemas no chão
parado em frente a estante de livros
sentindo a solidez da vigília
procurando um título com olhos estrábicos
esperando ser fecundado pela poesia
pelos versos que saltam das páginas rasgadas
aspirando a poeira dos mortos
Musa da meia-noite
flutua insone sob o teto dos amantes,
leva recados em capsulas de analgésicos
promove orgias na sala de jantar
Dorme no mastro negro dos marujos
E com tua seiva escreve poemas no chão
domingo, 14 de maio de 2017
[poema]
No chão
a música que escrevemos
contra a solidão
como se pudéssemos domar o ímpeto das palavras
abrir caminho ao fogo entre as pedras
e de um rio sem nome
erguer nossas mãos
então assim poderíamos confundir a tormenta
com a disciplina do amor
e a ela entregar nossos campos de terra.
a música que escrevemos
contra a solidão
como se pudéssemos domar o ímpeto das palavras
abrir caminho ao fogo entre as pedras
e de um rio sem nome
erguer nossas mãos
então assim poderíamos confundir a tormenta
com a disciplina do amor
e a ela entregar nossos campos de terra.
segunda-feira, 8 de maio de 2017
[poema]
Como se fosse óbvio sobreviver à fila do pão,
ao cansaço que bate a cabeça contra a janela do ônibus,
à tristeza manifesta em cáries nos dentes,
às casas e edifícios espalhados pelo vale
a resmungar para as nuvens.
Assim vai a tarde e uma ilusão qualquer,
A mesma tarde da semana passada,
A mesma tarde de amanhã.
ao cansaço que bate a cabeça contra a janela do ônibus,
à tristeza manifesta em cáries nos dentes,
às casas e edifícios espalhados pelo vale
a resmungar para as nuvens.
Assim vai a tarde e uma ilusão qualquer,
A mesma tarde da semana passada,
A mesma tarde de amanhã.
quinta-feira, 4 de maio de 2017
[poema]
Os cabelos derramados sobre a terra,
em círculos, entrelaçados nossos pulsos
como se maio e o mundo inteiro
coubesse no hálito da manhã,
na passagem do verbo à carne,
nessa palavra inventada por nós
que dormimos enquanto chove.
Tua cabeça
em meu peito arde,
interminável.
em círculos, entrelaçados nossos pulsos
como se maio e o mundo inteiro
coubesse no hálito da manhã,
na passagem do verbo à carne,
nessa palavra inventada por nós
que dormimos enquanto chove.
Tua cabeça
em meu peito arde,
interminável.
quarta-feira, 3 de maio de 2017
[poema]
Um passo trôpego
Para me manter lúcido,
Um fogo cujos olhos
Nos limpe o torpor,
Um verso mal feito
Para limpar a ferrugem das conversas
E que uma boca qualquer
Sangre o coração da cidade.
Para me manter lúcido,
Um fogo cujos olhos
Nos limpe o torpor,
Um verso mal feito
Para limpar a ferrugem das conversas
E que uma boca qualquer
Sangre o coração da cidade.
domingo, 16 de abril de 2017
[poema]
Quando o hálito breve
e improvável das pálpebras abertas me enche o rosto,
pergunto-me se falhei ao escrever esses versos,
se falho em todos os dias.
Então isso me parece correto.
Escrevo do alto de uma cabeça coberta de fogo,
imagino-me brando, invicto, separando da terra
as pedras que colho nos poemas.
e improvável das pálpebras abertas me enche o rosto,
pergunto-me se falhei ao escrever esses versos,
se falho em todos os dias.
Então isso me parece correto.
Escrevo do alto de uma cabeça coberta de fogo,
imagino-me brando, invicto, separando da terra
as pedras que colho nos poemas.
sexta-feira, 31 de março de 2017
Outono
Deito-me sobre a paz melancólica do amor e com o olho voltado para o sol
Recolho as chagas do corpo,
Parece- me que é como achar a casa perdida na água limpa séculos atrás,
Meus olhos se enchem de um brilho precioso e se derramam
Como se pela primeira vez vissem o que existe,
Então em nossas mãos estremecem as raízes crescidas no inverno
E tudo isso transgride o sorriso que me colocas nos ombros.
Entrado os anos, ao lado das árvores,
Parece-me talvez felicidade.
Recolho as chagas do corpo,
Parece- me que é como achar a casa perdida na água limpa séculos atrás,
Meus olhos se enchem de um brilho precioso e se derramam
Como se pela primeira vez vissem o que existe,
Então em nossas mãos estremecem as raízes crescidas no inverno
E tudo isso transgride o sorriso que me colocas nos ombros.
Entrado os anos, ao lado das árvores,
Parece-me talvez felicidade.
quarta-feira, 15 de março de 2017
das moléstias
Acima das árvores
Entre a voragem de luz e trevas
O tempo trará o pão entre os dentes
A fome, eu digo, desaparecerá
Espero também que a poeira
E as moléstias do corpo
A areia do concreto dos edifícios
E que nos devolvam os anéis
Os ossos e o sangue roubados.
Entre a voragem de luz e trevas
O tempo trará o pão entre os dentes
A fome, eu digo, desaparecerá
Espero também que a poeira
E as moléstias do corpo
A areia do concreto dos edifícios
E que nos devolvam os anéis
Os ossos e o sangue roubados.
terça-feira, 7 de março de 2017
Os sonhos cobrem meus olhos quando amanhece
Parecia mais importante escrever do que saber todo o resto.
sentia uma vaga e violenta esperança,
ainda que irmanada com os seres e as coisas debaixo da terra,
ainda que pudesse empobrecer à luz do dia.
Adiante o olhar para dentro do fim, o medo de despertar.
Sabia que não havia onde se esconder e a luta contra o tempo estava não apenas perdida,
mas também ausente.
Naquele ato resignado vivia uma satisfação como de um gole d’água.
Sim, as horas se devoravam a cada letra que surgia no papel,
entretanto era a única liberdade em direção às estrelas.
Deixou anotado no bilhete:
Se houver tempo, espero que se lembrem das coisas boas que fizeram.
sentia uma vaga e violenta esperança,
ainda que irmanada com os seres e as coisas debaixo da terra,
ainda que pudesse empobrecer à luz do dia.
Adiante o olhar para dentro do fim, o medo de despertar.
Sabia que não havia onde se esconder e a luta contra o tempo estava não apenas perdida,
mas também ausente.
Naquele ato resignado vivia uma satisfação como de um gole d’água.
Sim, as horas se devoravam a cada letra que surgia no papel,
entretanto era a única liberdade em direção às estrelas.
Deixou anotado no bilhete:
Se houver tempo, espero que se lembrem das coisas boas que fizeram.
sexta-feira, 3 de março de 2017
Sugar Blues
(café brigadeiro cocaína sugar blues)
Todos os vícios se alimentam da virtude,
Por isso quero andar de cabeça farta
E pés virgens,
Quero descobrir o que o sol queima
Sob a pele dos santos, sob a pele dos falsos,
No intestino dos monstros.
Quero tirar a pele das palavras
Com a ponta do lápis
E tomar café amargo
Para gozo das úlceras.
quarta-feira, 1 de março de 2017
sobre a tristeza
Anotava uma palavra qualquer no canto do papel, depois prendia-a entre os dedos enquanto estrelas morriam. Quase não tinha um nome. Pensava, em sua habitual fadiga, se o mundo era tão confuso então porque não ser triste? A chuva lhe banhava os pés, a alegria lhe trazia culpa, chegava-se a ele algo brutal como uma lâmina cega. Sentava-se em algum bar, bebia, amava, se pudesse, sentia-se eufórico. Depois cambaleava e o mundo girava com ele. A felicidade o deixava desorientado.
terça-feira, 14 de fevereiro de 2017
sobre a impaciência:
Sobre o que escreverei hoje? Que palavras me aguardam para além das grades e das janelas, lá fora, no céu ainda molhado? Sobre o que eu escreveria hoje se fosse um lápis ou fosse uma melodia, uma nota que se estende indefinidamente, tão longe quanto um peixe pode ir salgando o mar ou o cheiro do café num sonho?
E se eu fosse o homem fabril das palavras, um inventor qualquer de vírgulas, sobre o que eu escreveria hoje?
Sem dúvidas, um poema torto.
E se eu fosse o homem fabril das palavras, um inventor qualquer de vírgulas, sobre o que eu escreveria hoje?
Sem dúvidas, um poema torto.
sábado, 4 de fevereiro de 2017
Amanhã
Amanhã é preciso cortar a grama
E pagar a luz
Pagar as contas da vida
E da solidão
Amanhã é preciso tirar o mármore do rosto
Desenterrar o temor da morte
E o ferro dos ossos
Meu rosto espreita o amanhã
Como se já o conhecesse
Porém se engana
E perde-se nas horas mofinas da madrugada
Acordado, finge dormir
Enquanto ao largo a vida corre
E o amanhã nunca vem
E pagar a luz
Pagar as contas da vida
E da solidão
Amanhã é preciso tirar o mármore do rosto
Desenterrar o temor da morte
E o ferro dos ossos
Meu rosto espreita o amanhã
Como se já o conhecesse
Porém se engana
E perde-se nas horas mofinas da madrugada
Acordado, finge dormir
Enquanto ao largo a vida corre
E o amanhã nunca vem
sábado, 28 de janeiro de 2017
Fotografia
Estava disposta:
Os dedos vagarosos repousados no sangue como se pudesse fecundá-los, a cabeça no mar a procurar estrelas, o sal queimando as mágoas que trazia na pele.
Tenho um projeto sem nome, ela disse enquanto a poeira se acumulava pela estante de livros e as décadas amontoavam-se em fotografias.
quinta-feira, 26 de janeiro de 2017
Ao futuro
A noite arde ao revés
Todavia sua chama
Não enche o cálice dos forasteiros
A medida das horas não passa
Pelo vidro do relógio
E aos pés triunfantes
O espólio a derrota pertence
Em épocas outras
O nome da história
Pesava os dentes
Sortilégios rubros
Augúrios
Porém, desde sempre
Caminho o tempo para o fundo
De um olho que se apaga
Todavia sua chama
Não enche o cálice dos forasteiros
A medida das horas não passa
Pelo vidro do relógio
E aos pés triunfantes
O espólio a derrota pertence
Em épocas outras
O nome da história
Pesava os dentes
Sortilégios rubros
Augúrios
Porém, desde sempre
Caminho o tempo para o fundo
De um olho que se apaga
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