terça-feira, 13 de janeiro de 2015

madrugadenta

Ele entrou na cozinha e pensou que o fogão era um bom lugar para fazer um café, pois já ia madrugadenta. Porém, antes a água, o filtro, o pó. Colocou a chaleira transbordante em uma das tantas bocas do fogão. Para acendê-lo era necessário um fósforo. Viu a caixa dormitando no balcão, aquela hora ela já não trabalhava muito, e transviu os fósforos lá dentro sem nem precisar abri-la. Eles lá deitados, magrinhos com suas cabeças pesadas, vermelhas. Transviu suas vidas passadas quando ocupavam florestas, quando eram apenas um e tocavam o vento. Dessa época guardavam ainda mistérios. Podiam acender o fogo e notas musicais, coçar um cérebro ou tirar cera do ouvido, apagar a cegueira ou ajudar as musas a encontrarem os poetas. Não reclamavam de nada, nem do tamanho da caixa ou do cheiro de fritura, nem quando acabavam no lixo. Tristeza mesmo era cair na pia e acabar molhado e não poder acender mais nem o bule do café.

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