quarta-feira, 31 de maio de 2017

[poema]

Retiradas do concreto,
as palavras,
repousadas no canto inferior da memória,
páginas dezessete e dezoito,
reivindicam para si
a condição errante de poesia.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

[poema]

O poeta está nu
parado em frente a estante de livros
sentindo a solidez da vigília
procurando um título com olhos estrábicos
esperando ser fecundado pela poesia
pelos versos que saltam das páginas rasgadas
aspirando a poeira dos mortos

Musa da meia-noite
flutua insone sob o teto dos amantes,
leva recados em capsulas de analgésicos
promove orgias na sala de jantar
Dorme no mastro negro dos marujos
E com tua seiva escreve poemas no chão

domingo, 14 de maio de 2017

[poema]

No chão
a música que escrevemos
contra a solidão
como se pudéssemos domar o ímpeto das palavras
abrir caminho ao fogo entre as pedras
e de um rio sem nome
erguer nossas mãos
então assim poderíamos confundir a tormenta
com a disciplina do amor
e a ela entregar nossos campos de terra.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

[poema]

Como se fosse óbvio sobreviver à fila do pão,
ao cansaço que bate a cabeça contra a janela do ônibus,
à tristeza manifesta em cáries nos dentes,
às casas e edifícios espalhados pelo vale
a resmungar para as nuvens.

Assim vai a tarde e uma ilusão qualquer,
A mesma tarde da semana passada,
A mesma tarde de amanhã.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

[poema]

Os cabelos derramados sobre a terra,
em círculos, entrelaçados nossos pulsos
como se maio e o mundo inteiro
coubesse no hálito da manhã,
na passagem do verbo à carne,
nessa palavra inventada por nós
que dormimos enquanto chove.

Tua cabeça
em meu peito arde,
interminável.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

[poema]

Um passo trôpego
Para me manter lúcido,
Um fogo cujos olhos
Nos limpe o torpor,
Um verso mal feito
Para limpar a ferrugem das conversas
E que uma boca qualquer
Sangre o coração da cidade.