terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Cabeças falantes

Foi de garoto que veio o gosto. No chiqueiro, ao invés de porcos, criava cabeças. Umas cabeças miúdas com vento de nordeste. Cabecinhas de alfinete. Deixava que o sol pegasse na palha seca e com um pouco de música e fogo elas surgiam espontaneamente. Depois de um tempo, já espichado, criava cabeças falantes que serpenteavam palavras enquanto rapinavam quem parasse para escutá-las. Essas ele deixou em contato com a televisão. Todavia, verborrágicas e gatunas, lhe trouxeram problemas em demasia. Por acaso, mas só por acaso, um dia as cabeças comeram os versos de um poema caído no chão. No ato pegaram delírio. Transformadas em esfinges, devoravam leitores delinquentes antipoéticos.

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