terça-feira, 24 de setembro de 2013

Wimbledon

Dia chuvoso de primavera. Faz frio também, portanto ainda a esperamos. O almoço foi leve: salada, peito de frango grelhado e arroz. As pessoas nas mesas ao redor mexiam em seus smartphones conferindo o facebook a cada 30 segundos. Curtir, postar fotos de comida, comentar. O facebook é uma espécie de consciência onipresente ou um chefe a quem devemos nos reportar Como tenho me policiado quanto ao uso dessa ferramenta orwelliana, iniciei a leitura de um artigo sobre a final do torneio de tênis de Wimbledon, disputado por Federer e Nadal em 2005 e escrita por um cara que já se matou. Não que o suicídio seja o que esperamos das pessoas. Aquele já é só para enfatizar a ideia de coisa remota como, por exemplo, uma final de tênis ocorrida há oito anos e comentada de modo religioso por alguém que morreu jovem e de forma trágica.
O mais estranho é que não sei o resultado da partida, quem ganhou o torneio. O autor ainda não chegou lá. Poderia, é claro, facilmente obter a informação no Google, entretanto desejo manter a expectativa como se estivesse acompanhando o jogo. Por outro lado, não faz a menor diferença na minha vida sabê-lo ou não. A vida também é feita de um monte de informações desimportantes e futilidades, igual ao facebook. Medir a relevância dos fatos parece tarefa bastante óbvia. Como confundir a essência com o superficial? Porém não é. Reduzida ao essencial à vida é uma jornada de sobrevivência. Ir além é o trabalho árduo. A visão reina sobre os demais sentidos e é dada a quimeras. O que me parece tão importante hoje, não o será amanhã, ou talvez o contrário, mostre-me seu valor, revele-se de uma forma distinta. De que maneira o resultado da final de Wimbledon de 2005 pode alterar minha vida ou acrescentar algo de relevante? O fato é que todas as futilidades me soam atraentes. Não jogo tênis - nunca joguei, sequer segurei uma raquete na mão. Entretanto, por alguns segundos, tento vislumbrar uma vida feita apenas de informações úteis, instruções e comandos técnicos de funcionamento. Ao invés disso penso em alguém que nesse momento toma café enquanto espera a chuva passar, apenas por esperar. Nada o aguarda ali adiante. Ele é isso; a espera, os carros desacelerando, o sinal vermelho. Eu também não sei exercitar o nada, não consigo almoçar sem ler ou escutar música, ao mesmo tempo em que não gosto de conversar com estranhos nessas estranhas praças de alimentação de shoppings. Talvez ler seja um modo de absorver o tempo. Procuro um lugar mais tranquilo para dar continuidade à partida. Espero que o Federer vença.

2 comentários:

Daniel Rocha disse...

Ler e tomar café não são exercitar o nada. Isso é vida.

Mas poderíamos fazer um ensaio: De como o facebook matou futuros candidatos ao Nobel de Literatura que deixaram de escrever porque estavam ocupados demais curtindo postagens.

Marcelo Martins disse...

O facebook é o deus ex-machina dos descrentes.