quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Metafísica do Tênis

Terminei a leitura do artigo sobre a final do torneio de Wimbledon entre Federer e Nadal. Antes de prosseguir com o texto preciso fazer uma correção: o artigo se refere a final de Wimbledon de 2006 e não de 2005 como, de forma displicente, eu havia afirmado anteriormente. Em princípio apenas desatenção.
Contrariando a expectativa gerada, o autor não revela quem ganhou o torneio, aliás, o abandona solenemente para discorrer sobre o âmago do tênis moderno. E faz jus a proposta do texto, pois se fosse apenas sobre a partida e o resultado, bastava procurar no Google. Não é à toa que o artigo chama-se “Federer como experiência religiosa”. Manobra astuta de DFW – David Foster Wallace, o autor – fisgar o leitor nas páginas iniciais com a promessa de uma crônica vibrante e fiel do jogo. O escritor é bastante didático quanto à explicação da mecânica do esporte, fruto de sua experiência como tenista amador na juventude. Pude compreender o que é uma bola cheia de “topspin” e a definição do estilo “power-baseline”. Entendi um pouco melhor o que faz Federer ser considerado uma lenda, para muitos o melhor jogador da história do tênis. Ao vê-lo em quadra tinha um pouco essa intuição; a beleza inexplicável de alguns golpes e a aparente facilidade e despretensão com que faz aquilo. Mas o que interessa a DFW está além, na experiência metafísica ao assistir o suíço jogando. O que faz Federer ser Federer é tudo aquilo que não cabe nas possibilidades concretas de explicação, ou seja, o treinamento, o senso cinestésico, condicionamento, estratégia, agilidade, entre outros. Está no modo como ele congrega todos esses aspectos e coloca-os em funcionamento, no ato singular de reconciliar a força e a graça, o humano e aquilo que o excede. Talvez a intenção do artigo fosse justamente essa: transcender a mera experiência física do ato da leitura. Assim como minha crença na literatura, não sua função, da possibilidade de reconciliação entre o humano e o sagrado. Nada de deuses ou religiões, cultos e santos, apenas o mistério da própria vida. Este algo pleno e etéreo que sempre nos falta ou escapa, engolido pela força bruta da matéria. Saber o resultado do torneio de Wimbledon de 2006, ou 2005, definitivamente não fará a menor diferença, mas ter lido o artigo sim. De agora em diante assistirei aos jogos à espera de um “Momento Federer” de revelação.

2 comentários:

Daniel Rocha disse...

O professor da cadeira para a qual tenho um trabalho para apresentar amanhã de manhã, o qual deveria estar estudando em vez de estar aqui na wasteland e fuckbook, disse que leu a biografia do Federer (aliás, meu professor era tenista).

Gostei da descrição de todo o esforço que o cara teve que ter para ser quem é. É isso aí. Hard work.

E muito legal esse exercício de um texto por dia. Até me fez escrever hoje. Aguardo o próximo. Aquele abraço.

Daniel Rocha disse...

Um texto por dia. Estamos te aguardando.

Abraços ao som do Pablo Held Trio - bem legal aquele disquinho, estou aqui ouvindo os samplers na Amazon:

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