sábado, 6 de setembro de 2014

o nó

Tenho esperado que desate o nó. Corro o risco de ficar à deriva, de não fixar-me aqui no bloco de pedra – de não estar neste corpo.

Daqui alguns anos terei o rosto macilento e cansado. O tempo é elástico só na cabeça de quem não o possui. Entre o mundo e as pequenas misérias, elejo as minhas. E nisso reside minha ruína. Há a escolha correta (a própria escolha). A força que direciona, diz o que é. Entretanto, existe a perna, a outra perna que me sustenta. A terceira. Ela é o corpo. Todo o corpo. O resto é osso. Mas essa perna é forte, tem a essência do movimento – crua, violenta, instável. Ela é carne. A força estranha que consome e navega. Do outro lado o livro. A luz que cura. Preciso ser curado para seguir a palavra, verter sangue. É a voz do livro contra o movimento da perna. Um evento que não pode ser evitado. Ele irá acontecer - precisa acontecer, assim manda a natureza. Dizer sim e negá-lo, dizer sim e negá-lo. Tudo dentro, tudo ali crescendo e secando, morrendo rápido, lentamente renascendo. Sou apenas este corpo. Não há revelação. Esse corpo sagrado que sofre mutilações, que nega o que lhe há de mais humano. Só a cabeça vive. Devo negá-lo. Dizem que essa vida acaba como se nem tivesse começado. Porém, é apenas no fim que percebemos. É só quando o tempo se gasta, quando a coragem termina. Um dia repeti tudo que fizera no dia anterior e assim fui aprendendo os gestos e repetindo-os sem saber o que fazia.

Nenhum comentário: