domingo, 6 de julho de 2014

A copa do mundo é nossa

Sentou para ver o jogo. Era Copa do Mundo, mas não parecia. Uma formiga circulava ao redor da xícara de café. Ele desejou que ela morresse queimada ao encostar na xícara. Imaginou a cena de diversas maneiras, porém todas lhe pareceram inverossímeis. Pensava muito em morte. Na verdade, ao longo do dia, desejava muitas vezes que muitas pessoas morressem. Todavia, esses pensamentos recorrentes não eram coisa real, careciam de maldade. Era uma raiva. Quase nada. Não se julgava má pessoa.

Levantou-se para ir à cozinha, porém antes entrou no quarto do escritório e viu Hannah deitada no sofazinho com um livro aberto no peito. Esticou o pescoço a fim de ver o título, depois olhou a estante repleta de livros, alguns caindo das prateleiras, uma pilha no chão. Achou aquilo estúpido, balançou a cabeça. Serviu-se de ambrosia. Ao retornar à sala teve o impulso de olhar mais uma vez Hannah. Continuava deitada. O livro aberto sobre o peito e o braço largado no chão. A cabeça pendia um pouco para a esquerda. Não ressonava ou arfava, seu corpo todo era silêncio. Notou a boca entreaberta. Pensou em tocá-la para conferir a temperatura, talvez... Desistiu.

Sentou-se para continuar a ver o jogo, afinal era Copa do Mundo. A formiga jazia ao lado da xícara como se fosse um pontinho preto, enroscada em si mesma. Parecia sujeira. Naquele momento soube que era uma pessoa ruim.

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