terça-feira, 13 de maio de 2014

A cidade também é feita de pegadas

Caminhando pela cidade, percebi, com certo alívio, que não somos este lugar que ocupamos, nem ele é o mesmo para aqueles que o compartilham conosco. Não somos, tampouco estamos juntos. Partilhamos o ínfimo dessa substância cujo nome convencionamos chamar realidade, talvez lhe caísse melhor concretude. Incapaz de compreender os outros, não compreendo a vida, pois um movimento implica no outro como se fossem pequenas caixas dentro de outras maiores, ou o cubo mágico e sua dinâmica integrada. Todavia, não sou pessimista, apenas desconfio que venho falhando por existir pouco. Igualmente não desejo ser leviano. Tomar café, ler livros e escrever frases não constituem em si prova de humanidade, ou prova de uma coisa qualquer, um sentido objetivo. A vida, ás vezes, pode ser apenas um suspiro preguiçoso ou uma tarde de sono despreocupada. Não suporto deixar-me caído no sofá, de boca entreaberta, sentindo o vagar incipiente das horas. Porém, de modo arbitrário, o tempo me ultrapassa. O sol sucumbe à noite e o cosmos segue impenetrável seu ritual de morte. Então, dou a mim esta tarefa de permanecer de olhos abertos entre a descrença e a fé, gestando uma espécie de renascimento. Atento ao movimento sutil das palavras.

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