sexta-feira, 7 de março de 2014

Pierrot e Colombina

Chove desde muito cedo. Sinto uma espécie de preguiça, ou temor, de sair de casa. O mar é a maior parte do tempo da praia de modo que algumas centenas de gotas não deveriam me incomodar. A chuva conversa com o vento, que nada mais é do que uma melancolia tranquila que nos esforçamos para tirar do corpo. Em essência, a praia é de uma quietude que nenhum alarido pode sufocar, basta fechar os olhos e senti-lo. Entretanto, não dispenso o abrigo sincero do teu colo, menos ainda os olhares silenciosos que trocamos, pois o amor se desfaz e refaz constantemente. Debaixo do teto da casa de tijolos à vista, vislumbramos uma existência sem perdas nem ameaças, e rezamos para que o homem do mar proteja nossas esperanças. Nesse sonho, igualmente silencioso, dormimos. Ao despertar acaricio de leve tuas costas e tenho a certeza de que te amarei para sempre. Desperto novamente e fico deitado ouvindo a chuva e o rumor das ondas dizerem que ainda é tempo de sonhar.

2 comentários:

Unknown disse...

ao ler senti vontade de, também, encontrar quem fosse cúmplice, e abrigo, e constante, e que permitisse sonhar em dividir/viver o sim, o leve, o belo, e atravessar tudo, de dentro e de fora, de mim e de nós, de mãos dadas.
ando impossível! deve ser o tempo que urge... e ruge. e as escolhas.

Marcelo Martins disse...

Meu caro, Bitt.
Obrigado pelo comentário. Sim, o tempo, as escolhas, a paciência dessa construção infindável. Lembrei da passagem do encontro marcado do Fernando Sabino:
"De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...
Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro."

Um abraço