segunda-feira, 3 de setembro de 2018

da série: poesia numa hora dessas

Olhava o horizonte inesgotável e imaginava o futuro – lá onde é céu e mar. O que havia do outro lado do oceano?
África, navios, baleias. O dia seguinte, talvez o passado.

Meus pés eram tomados pelas ondas que chegavam à areia, levados embora. Talvez lá fora encontrasse deus, as coisas que havia perdido ou a habilidade de reter o tempo – aquele tempo de verão.

O brilho do sol na água também refletia em mim; a pele negra e quente, o corpo magro e desengonçado. Importava correr, depois o salto. E lá embaixo, no mais fundo da Terra, nadar. Isento de todo medo. Nadar como os pássaros voam, com leveza absoluta. Meus movimentos readquiriam uma sabedoria animal, sua razão de vento, e como um peixe-estrela desaparecia no mar, no tempo imóvel e largo no qual o corpo se diluiu. Por fim, era água a balançar sob o céu.

Aqueles dias nunca passaram, ainda estão lá, na praia, infinitamente em meus olhos de dez anos.

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