
Mrs. Parker tem uma página na internet, escreve poesias e críticas literárias. A foto do seu perfil lembra a de uma pin-up; cabelos curtos e negros, ar intelectual e idéias sedutoras. O lay-out do site é sóbrio, elaborado em detalhes, nada destoa, nem formas, nem cores. Só publica quando tem vontade e não exclui os comentários pejorativos, eles a divertem. Mrs. Parker não tem coluna de seguidores, achou desnecessária aquela ferramenta mal enjambrada de aferição de popularidade.
- E quem se importa com isso? Sugere com ar blasé. E quem se importa com isso?
Mrs. Parker zomba da minha insegurança. Ao vê-la tão cheia de si pensei em fazer o mesmo no meu blog, arrancar a coluna de seguidores. Afinal, quem precisa de seguidores se nem eles me lêem? O que eles significam para o meu ego faminto de aclamação pública? Ter seguidores soa um pouco como um messianismo fascista. Mussolini e Antônio Conselheiro é que possuíam seguidores. Eu quero ser lido, basta. Porém, na mesma medida em que me senti tentado a excluí-los, tive medo. Um medo obscuro e infundado, desses irracionais. Como assim excluir os seguidores? Meus seguidores! Com tanta gente no mundo para ser deletada, logo eles?
Mrs. Parker, segundo boatos, alcançou um tipo de status intelectual que já não precisa de nada além de seus próprios comentários, dos teóricos russos, de Borges, Pessoa e Shakespeare. Diz que a literatura lhe basta. Nada mais. Nem mesmo sexo ou coquetéis em noites de autógrafo. Olho para os meus vinte seguidores com um misto de perplexidade e paixão. Vinte. E dentre eles estou eu a seguir-me como se fosse um duplo, leitor deste tal Marcelo, que também é um outro. Não posso excluí-lo.
- Eu comeria carne humana, ela me disse. Maldita! Eu a seguiria se pudesse.